sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Processo de elaboração dos portfólios em uma escola de Educação Infantil no ano de 2010

           O portfólio é um dos instrumentos mais importantes para acompanhamento do desenvolvimento e aprendizagem das crianças, bem como reorientar a prática pedagógica.  Pelo fato da avaliação em Educação Infantil não ter objetivo específico de aprovação para a série seguinte, é necessário que haja um constante acompanhamento do desenvolvimento educacional, progressos, avanços e conquistas das crianças. 
Nós educadores, sabemos e reconhecemos a importância desse documento, entretanto, há um grande distanciamento entre reconhecer e colocá-lo em prática. Portanto, é papel do setor de gestão pedagógica da escola prover meios e condições para que seus educadores reconheçam essa importância e a coloquem em prática, não como cumprimento legal, mas, por reconhecerem sua importância para o processo educativo e valorização do trabalho realizado com as crianças. Pois, como afirma LIBÂNEO (2001): Uma coisa é certa, as pessoas arrumam tempo para as coisas que compreendem, que valoram e nas quais acreditam.
            O presente texto é parte de um relato de experiência, vivenciado na coordenação pedagógica em 2010 e posteriormente compartilhado com minhas companheiras em outubro do mesmo ano, na Secretaria Municipal de Educação.
            Durante a exposição do relato, procuro evidenciar o papel do coordenador pedagógico na criação de condições para que a equipe-escola trabalhe em função da promoção de um ensino de qualidade, assegurando o desenvolvimento educacional da criança mediante o adequado registro evolutivo de sua aprendizagem. Destaco também o embasamento teórico e legal que sustentam as ações e orientações pedagógicas.
A LDB assegura em seu artigo 31 que:
“Na educação infantil a avaliação far-se-á mediante acompanhamento e registro do seu desenvolvimento, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental”
O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil orienta:
[...] a avaliação é entendida, prioritariamente, como um conjunto de ações que auxiliam o professor a refletir sobre as condições de aprendizagem oferecidas e ajustar sua prática às necessidades colocadas pelas crianças. É um elemento indissociável do processo educativo que possibilita ao professor definir critérios para planejar as atividades e criar situações que gerem avanços na aprendizagem das crianças. Tem como função acompanhar, orientar, regular e redirecionar esse processo como um todo.
 O artigo 10 das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, aborda especificamente como deve ser a avaliação nesse seguimento da Educação Básica:
As instituições de Educação Infantil devem criar procedimentos para
acompanhamento do trabalho pedagógico e para avaliação do desenvolvimento das crianças, sem objetivo de seleção, promoção ou classificação, garantindo:
I - a observação crítica e criativa das atividades, das brincadeiras e interações das crianças no cotidiano;
II - utilização de múltiplos registros realizados por adultos e crianças (relatórios, fotografias, desenhos, álbuns, etc.);
III - a continuidade dos processos de aprendizagens por meio da criação de estratégias adequadas aos diferentes momentos de transição vividos pela criança (transição casa/instituição de Educação Infantil, transições no interior da instituição, transição creche/pré-escola e transição pré-escola/ Ensino Fundamental);
IV - documentação específica que permita às famílias conhecer o trabalho da instituição junto às crianças e os processos de desenvolvimento e aprendizagem da criança na Educação Infantil;
V - a não retenção das crianças na Educação Infantil.

Em consonância com os documentos oficiais, meu projeto de coordenação previa a elaboração dos portfólios avaliativos, entretanto, havia um caminho a ser percorrido, que não é nada fácil quando chegamos a um lugar onde não conhecemos as pessoas. Tudo é muito novo e diferente: as rotinas de trabalho, a comunidade, os professores, educadores e demais funcionários da escola. O desafio é grande: entrosar-se com a nova equipe escolar e trabalhar para alcançar as metas estabelecidas.

A cultura organizacional da escola
Ao passar a fazer parte da equipe, era de meu conhecimento  que na própria elaboração do Projeto político-pedagógico, constava como meta a elaboração dos portfólios, já decidido nas primeiras reuniões pedagógicas do ano letivo e uma professora da equipe que já elaborava seus portfólios, havia compartilhado com a mesma sua experiência na elaboração do documento.
Para embasar minha prática como coordenadora pedagógica, fiz vários estudos pertinentes ao campo de trabalho e avaliação pedagógica no contexto da Educação Infantil. Alguns autores estudados: Jussara Hoffmann (2001), Zilma Ramos de Oliveira (2007), Miguel Zabalza (2006), Hilda Micarello (2010), Elizabeth Shores & Cathy Grace,  entre outros. Já sentia-me segura para chegar com as ideias prontas para serem “servidas” à equipe, entretanto, algo ainda me incomodava: o fato de impor inovações pedagógicas de cima para baixo e  para os professores. Assim como FULLAN & HARGREAVES(2000) denunciam como problema fundamental na implementação de mudanças na Educação:
“Muitas iniciativas para o desenvolvimento de pessoal assumem a forma de algo que é feito para os professores ao invés de com eles e, menos ainda, por eles...”
Nesse sentido, era preciso envolver a equipe no processo de construção dos portfólios e levá-la a compreender sua importância e finalidade para a Educação Infantil.
A padronização do portfólio
Cientes de que havia muito trabalho pela frente, e que precisávamos dar um primeiro passo, foi proposto à equipe em um dos nossos HTPCs a discussão dos itens obrigatórios que deveriam constar no portfólio coletivo de cada sala, bem como as finalidades dele. Hoffman reforça nossa intenção quando afirma que um dossiê/portfólio torna-se significativo pelas intenções de quem o organiza. Dessa forma, a intenção era elaborar diretrizes a serem seguidas junto com a equipe e não para a equipe.
Os resultados da discussão ficaram registrados para que eu pudesse fazer a devolutiva e a equipe pudesse seguir os padrões estabelecidos por ela mesma, e não pela imposição da coordenação pedagógica.







REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei n. 9.394: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). Diário Oficial da União, Brasília, Seção 1, p. 1-9, dez. 1996. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm>. Acesso em 20 set. 2010.
BRASIL. Ministério da Educação/Conselho Nacional de Educação/Câmara de Educação Básica. Resolução nº. 5, de 17 de dezembro de 2009. Fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Brasília: 2009.
BRASIL. Ministério da Educação/Secretaria de Educação Básica. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Vol. I. Brasília: MEC/SEB, 1998.
FULLAN, M. & HARGREVES, A. A escola como organização aprendente: Buscando uma educação de qualidade. 2ª Ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.
GRISPUN, M.P.S.(org). A prática dos orientadores educacionais. 6ªed. São Paulo: Cortez, 2008.
Hoffmann, J. Avaliação na Pré-escola: um olhar sensível e reflexivo sobre a criança. Porto Alegre: Mediação, 1996.
LIBÂNEO, José Carlos. Organização e gestão da escola: Teoria e prática. Goiânia: Alternativa, 2001.
SHORES, Elizabeth F. & GRACE, Cathy. Manual de Portfólio: um guia passo a passo para professores. Porto Alegre: Artmed, 2001.

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